terça-feira, 2 de junho de 2015

Caroço no angu alvinegro

Daniel Augusto Jr/Ag Corinthians
Tite fala muito… em construção de uma nova equipe no Corinthians. Não seria um exagero de linguagem, sobretudo para quem, como ele, gosta tanto de trabalhar com as palavras? Reconstrução já o seria, a meu ver. Mas, talvez, um novo ajuste coubesse melhor.
Afinal, o elenco de que ele dispõe só sofreu duas baixas efetivas – Guerrero e Sheik, até agora. Dois jogadores importantes, sem dúvida, Contudo, de relativa significância na movimentação coletiva do time. A saída de ambos afetou o poder de fogo da equipe, óbvio. Todavia, isso nunca foi o ponto alto do Corinthians, desde quando Tite ainda era treinador da equipe, antes de Mano e passando por ele e pela fase de euforia mais recente até chegar a hoje, novamente com o técnico campeão do mundo.
Mesmo no período de longa invencibilidade neste ano, em que os apressadinhos da mídia passaram a ver no Timão vislumbres do que gostam de chamar de futebol moderno, fruto das conversas do nosso técnico com Ancelotti e cia. bela, aos meus olhos cansados era o mesmo Corinthians: muito bem organizado defensivamente, com as tais duas linhas de quatro, mas pouco produtivo ofensivamente. Ganhava ou empatava quase sempre com placar apertado, tivesse ou não Guerrero e Sheik no ataque.
Cansei de dizer e escrever isso antes, durante e depois da ascensão corintiana nesta temporada: um time altamente eficiente na busca pelo resultado, mas sem brilho, a não ser eventualmente, e de parco poder ofensivo. Ainda quando lá estavam atuando Guerrero e Sheik ou até mesmo quando Danilo substituía um deles e era aclamado como talismã do time.
Portanto, a queda atual do Corinthians para a vala comum dos demais times grandes do Brasil não me surpreendeu nem um pouco.
Pois aquele jeitão de jogar, com marcação cerrada a partir de seu próprio campo, exige extrema concentração por parte dos jogadores, que não podem errar, seja no bote ao adversário, seja no passe inicial – um erro ali pode ser fatal. A mente cansa mais do que as pernas. Chega uma hora em que a turma começa a perder o foco e aí a coisa toda desanda. Como o Corinthians, embora dono de elenco acima da média, não tem aquele jogador que desequilibra, rompe com o estabelecido por meio de um talento especial, tudo fica mais complicado.
Daí, a necessidade de reajustar, reconstruir ou mesmo construir um novo Corinthians.
Talvez, quando Tite fala em construção de um novo time, esteja externado inconscientemente o que está no seu consciente: a suspeita ou certeza de que a defecção corintiana não se restrinja apenas aos dois atacantes ilustres – Guerrero e Sheik.
Isso, talvez, explicasse a permanência no banco de Elias, por exemplo. Sim, porque em situação normal, Tite estaria pedindo à CBF que liberasse Elias, caso ele tivesse se apresentado à Seleção para o amistoso com o México, e não, tendo-o à mão, deixá-lo no banco. Assim como só colocar Danilo em campo já quase no fim do jogo, ele que tantas vezes bem substituiu Guerrero e Sheik.
Meu amigo, tem caroço nesse angu.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Dudu na “cova dos leões”

Como já era previsto a primeira instância do Tribunal de Justiça da Federação Paulista de Futebol puniu o atacante palmeirense Dudu com a pena mínima de seis meses pela agressão ao árbitro Guilherme Ceretta de Lima na final do Paulistão-15.
Difícil saber se o pleno do mesmo Tribunal manterá a pena quando julgar o recurso interposto pelo departamento jurídico do clube. A desconfiança é grande de que a pena será reduzida escrachadamente, sempre com justificativas esdruxulas.
O provérbio popular de que “da cabeça de juiz e de bumbum de neném nunca se sabe o que vai sair” tem muito a ver com as sentenças incoerentes que a Justiça Desportiva continua proferindo no Brasil. O próprio Dudu acabou sendo absolvido pelas ofensas que dirigiu ao árbitro após ser expulso e de te-lo agredido. Como pode ter sido absolvido de tudo o que ele falou?
Pela agressão ao santista Geuvânio, atitude que provocou sua expulsão e ira, o atleta do Palmeiras foi punido com um jogo apenas. Incoerência ou não? Assim pensam nossos auditores da Justiça Desportiva. Nem sempre uma boa defesa absolve ou uma péssima defesa condena. É mole?
Viram só o que a Comissão Disciplinar da Conmebol decidiu no episódio envolvendo Boca Juniors x River Plate? Eliminar o Boca da referida competição era o mínimo que se esperava, até pelo próprio indiciado, mesmo que esteja recorrendo com a intenção de jogar os 45 minutos restantes do jogo que foi encerrado com o placar de 0 a 0, empate que classifica o rival River.
Para a entidade que comanda o futebol em nosso continente a multa de 200 mil dólares é muito mais importantes do que excluir o Boca apenas desta Libertadores e fazê-lo jogar quatro jogos como mandante sem torcida e mais quatro jogos como visitante também sem teus torcedores.
Pelas imagens que rodaram o mundo e chegaram na FIFA, a punição imposta ao clube argentino é muito branda. Tanto é que já está circulando no noticiário esportivo europeu que a Conmbebol perderá uma vaga de classificação para a Copa do Mundo.
A FIFA, já há algum tempo, vem sendo pressionada para que o quinto colocado nas eliminatórias sulamericanas não dispute a repescagem contra o representante da oceânia. Politicamente, uma redistribuição de vagas vai ser benéfica para Blatter se manter no poder por mais alguns anos.
Parece que, sem Ricardo Teixeira, morto politicamente (?) e sem Julio Grodoña, falecido, atrapalhando seus planos o atual mandatário está tratando nosso continente de acordo com a competência que a Conmebol tem demonstrado na organização dos seus campeonatos.

Um técnico de outro mundo

O velho cartola saiu para mais uma viagem do futebol. Sete da manhã já chegava. Tão cedo em outro país. Táxi, hotel e o encontro. A conversa deveria ser objetiva, mas o treinador tinha muito que mostrar. A começar pelo drone. Jogadores em campo sobe o moderno aparelho e tudo passa a ser gravado e visualizado de cima.
Orientações táticas detalhadas, individuais e em bloco e o momento da checagem. Sobe um telão no fundo do campo e as imagens do drone são exibidas. As correções são feitas. O trabalho coletivo, ou alguma movimentação, não saíram como se esperava. Sobe o drone e o treino segue. Há uma filosofia em cada movimento. Não é o cada um por si. É o  todo. Você pode até bater certo na bola, fazer a marcação correta, mas estar no momento errado.
Difícil entender? Sobe o telão de novo e as novas imagens do drone são vistas e, na insistência no erro, um joystick entra em ação. Os jogadores entendem essa linguagem. Usam joystick desde criança. Agora o movimento é feito pelas setas e fica bem claro o que o treinador quer. O meio campista, que tinha dúvidas, sabe, por fim, exatamente o que fazer. Sobe o drone de novo e depois de assistirem a tudo, outra vez no telão, fica claro, que o treinamento tático, daquela manhã, foi assimilado. Foi tudo rápido e intenso. A tarde tem mais. Da mesma forma rápida e intensa.
A equipe do treinador está fazendo o mesmo trabalho com as outras categorias. A instrução tática não muda. O jeito de jogar é bem nítido na cabeça do garoto de 12 anos ou do veterano de mais de 30. Sabendo que o dirigente é brasileiro um  laptop com informações detalhadas do Brasil é mostrado, agora. E com dados incríveis, do time do cartola. Aquilo está lá faz tempo. Jogos do Brasil são vistos e gravados como rotina. Qualquer time está bem mapeado. Hora do  almoço. Trocam idéias e o sonho de consumo fica revirando a cabeça do visitante. Ele parece uma criança numa loja de brinquedos, ou um adulto dentro de um carrão importado. Quanto custa esse sonho? O preço é compatível. A viagem de volta foi, literalmente, nas nuvens.
As 23 horas, em casa, ele era outa pessoa. Seus conceitos, seus objetivos, seu jeito de ver futebol mudaram, completamente, nas pouco mais de 15 horas de viagem. Dias depois a frustração. Não será possível fechar negócio. Segue a vida rotineira do Brasil. Só que ele mudou. Depois de tudo, que vivenciou, quer algo grande, próximo do que viu naquela viagem. Não tem como dormir em paz com menos.
Vai ao jogo. Em campo seu time é um sono. Nada funciona, o ritmo é tão lento que ele cochila. No sonho sobe um drone, ergue-se um telão, usam-se joysticks. A velocidade de jogo, naquela pequena cochilada, é muito forte e vibrante. Tem coisas que é melhor não conhecer. Quem não conhece não sente falta. Mas depois de saber que existe, fica quase impossível o convívio com a mediocridade.
NOTA DO BLOGUEIRO: A história acima parece de ficção. Mas não é. Ocorreu na semana passada.

Esclarecimento aos bem amigos

Djalma Vassão/Gazeta Press

Em virtude da repercussão da entrevista que concedi ao meu querido Menon, na UOL, permita-me o amigo esclarecer alguns pontos que podem ter ficado flutuando na imaginação do leitor.
Antes de mais nada, a respeito de minha saída do Sportv, devo enfatizar que o Galvão Bueno nada, rigorosamente nada, teve a ver com minha decisão. Ao contrário, tanto ele quanto o Marquinho Mora, diretor da Globo em São Paulo, que me levaram para o Bem, Amigos sempre foram parceiros de todas as horas, assim como o Ingo, o Cereto, o Roger e toda a turma com quem dividi participações, inclusive no extinto Arena. Por eles, tenho todo o carinho, respeito e agradecimentos pela forma companheira com que me trataram nesses últimos dez anos de atividade naquela casa.
Quero esclarecer também que não guardo mágoas ou rancores de ninguém lá. Falo de coração aberto. Pois, entre outras lições do meu velho pai, guardei uma que sigo à risca: rancor dá câncer. Um ou outro, ainda passa. Mas, só.
Já vivi o suficiente para saber que as coisas são assim mesmo: ora, as fadas te embalam; ora, os demônios te tocam. Não há vilões, nem heróis.
Na verdade, se o amigo me perguntar quem não gostava de mim ou de meus serviços lá, sou incapaz de responder. Pra mim, trata-se de uma sombra pairando lá no alto.
Na verdade, nem funcionário da emissora era. Prestava serviços, recebendo um dinheirinho por participações nos programas.
E estava bem, até me sentir incomodado o suficiente pra tirar o time de campo. Nada dramático, sem um pingo de épico gesto ou coisa do gênero. Apenas troquei de camisa, como faço todos os dias, ao longo dos mais de cinquenta anos que exerço a profissão de jornalista em todos os níveis e funções, dos mais modestos aos mais ilustres.
Aqui entre nós, se há algo que lamento mais profundamente é deixar de participar daqueles jantares parceiros e intermináveis no Lellis, às segundas-feiras, depois do Bem, Amigos. De resto, é vida que segue, como diria o velho Guima, enquanto ainda houver.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Goleada verde, mas...

Djalma Vassão/Gazeta Press

A ideia talvez fosse poupar Robinho, um dos principais jogadores do Palmeiras nesta temporada. Poupou-nos, isso sim, durante todo o primeiro tempo, de vermos um Palmeiras ativo e incisivo, embora tivesse a bola a seus pés com frequência. Mas, como não conseguia evoluir, sobretudo pela imobilidade de Amaral, o Sampaio Correia, time bem armado defensivamente, foi lá: bola com Pimentinha, o ardido canhotinho da direita, que fez dois defensores palestrinos rebolarem antes de cruzar na medida para a cabeça de Diones: 1 a 0.
No intervalo, Oswaldo de Oliveira desfez o malfeito, trocou Amaral por Robinho, e o Palmeiras despejou um caminhão de melancia sobre os maranhenses. Aos 11 minutos, já havia virado o placar, com gols de Vítor Hugo e Cristaldo, em jogadas iniciadas por Robinho. Coube a Zé Roberto, em passe de Dudu que se aproveitara de falha na saída de bola do adversário, ampliar. O mesmo Zé Roberto que perderia cobrança de pênalti em Dudu, resgatada no ato por Kelvin, no rebote do goleiro, e que fecharia o placar, de cabeça num exato cruzamento de Egídio, já nos acréscimos: 5 a 1.
Mas, cuidado com o andor, pois no meio dessa chuva de gols, o Sampaio Correia meteu duas bolas nas traves de Fernando Prass, que, por sua vez, havia feito defesa milagrosa, em cabeceio de Robert.
Assim, o Palmeiras segue na Copa do Brasil, mas precisa ficar de olho naquela zaga, que anda fazendo água. No Brasileirão, o buraco é mais embaixo, meu.

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Bar-Bay e o Tico-Tico no Fubá

AFP
AFP
O maior dramaturgo brasileiro, escritor e cronista esportivo tão citado, Nélson Rodrigues, costumava falar repetidamente nas tais verdades eternas, aquelas que atravessam os tempos sem perder o viço e a atualidade.
No rastro do mestre, digo que o futebol jogado pelo Barcelona e o Bayern, afora outros, como o Arsenal, por exemplo, é uma dessas verdades eternas, pois vem dos confins da criação do jogo, inicialmente chamado pelos ingleses de foot-ball association. Isto é: um jogo coletivo em que a a bola, objeto central da prática, deve ser compartilhada por todos. Jogo que segue atualíssimo até hoje.
O passe e repasse é a essência do jogo, cujo objetivo final é levar a bichinha pra dormir nas redes adversárias. O resto tudo – táticas, jogadas individuais etc. – é mera decorrência.
Se vivo estivesse Nélson Rodrigues, ao espiar uma partida do Barça ou do Bayern na tv, diria no ato: “É tico-tico no fubá, oras bolas!”
Essa expressão era utilizada com frequência por nossa crônica esportiva e pelos torcedores, nos anos 30, 40 e 50, sempre que um time se esmerava na troca de passes rápidos e precisos. E timbrou para a história o jogo apresentado pelo América carioca nos anos 40, naquele time em que despontava Maneco, o Saci do Irajá, justamente imortalizado por Nèlson Rodrigues, em crônicas antológicas.
A expressão é roubada do título de um chorinho de Zequinha de Abreu, Tico-Tico no Fubá, inspirado numa cena de infância do autor, ao presenciar aquela dança alegre ao som de pios entrecortados dos passarinhos no terreiro onde o fubá havia se derramado, um clássico do nosso cancioneiro, tão esquecido hoje em dia como o estilo de jogo que nos deu fama e títulos.
Ouça, meu amigo, os versos acrescentados à música mais tarde e interpretados por Ademilde Fonseca, a Rainha do Chorinho:
O tico-tico cá
O tico-tico lá
O tico-tico vai comendo meu fubá…
Pois não é a exata representação do que catalães e bávaros fazem com a bola o tempo todo?: é tico-tico cá, é tico-tico lá, o tico-tico vai comendo meu fubá…
Perceba o ritmo das palavras, mesmo que os acordes não lhe venham à mente e reveja a bola quicando na pauta do gramado, pra cá, pra lá, como notas musicais sincronizadas num andamento rápido e envolvente.
É ou não é uma dessas verdades eternas que sempre ressurgem da sepultura onde foi depositada pela desmemória dos homens?
Fonte: Alberto Helena Júnior

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Real, 1 a 0. Ainda bem.

AFP
AFP
Os devotos de São Simeone dirão que ele, com seu modesto time, e por força de seus milagres,  fez o poderoso Real sangrar até o último minuto em mais de três horas de disputa pelas quartas-de-final da Liga dos Campeões.
Nem o Atlético de Madri é tão modesto assim, nem há milagres embutidos na deslavada retranca que Simeone implantou no seu time, tanto no jogo de ida como neste da volta, em Santiago Bernabéu, vencido com um gol arrancado a fórceps por Chicharito Hernandez, em esperta trama entre James Rodriguez e Cristiano Ronaldo.
Foi o jogo de uma nota só: o Real atacando e o Atlético se defendendo, o tempo todo. E assim seria numa eventual prorrogação, e, tenho cá minhas dúvidas, se, na cobrança de pênaltis, os atleticanos não escalassem dois goleiros.
E olhe que o Real entrou em campo desfalcado de quatro titulares essenciais – Marcelo, suspenso, Benzema, Bale e Modric, lesionados; portanto, 40 por cento de seus jogadores de linha, praticamente meio time.
E, por decisão equivocada de seu técnico, o zagueiro Sérgio Ramos foi escalado no meio de campo, no lugar de Modric, o que reduziu a capacidade de criação e infiltração do seu time diante de uma muralha vermelha e branca. E assim foi até o apito final, mesmo podendo recorrer ao menino Jessé, mais ágil e hábil na tentativa de abrir o ferrolho inimigo.
Mas, enfim, deu Real, o que é menos mal para o futebol representado nas semifinais também por Bayern, Barça e Juventus, que empatou com o Monaco, no Principado, por 0 a 0, único remanescente do catenaccio (cadeado) nessa fase decisiva da Liga dos Campeões da Europa. Mas, um catenaccio light, diria. Ainda bem.